segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

TEATRINHOS

A TARTARUGA E A LEBRE

Peça teatral infantil

Autora: Ana Alice
Adaptação de fábula de Esopo

Cenário: Floresta

Personagens- A lebre, a tartaruga e a borboleta.

Ato único - Está em cena a borboleta voando chega numa flor cheira, aproxima-se de outra sente seu perfume. Percebe que a cortina se abriu chega perto do público e começa a apresentação.

BORBOLETA:
Eu me chamo Nini
Nini, a borboleta da floresta
Amo as flores, os seus cheiros
Todos os perfumes.
Hoje eu vou contar
Uma história
Do tempo em que os animais
Conversavam com os homens.
E as histórias ensinavam
Como devemos proceder,
Conviver, analisar.
Agora prestem bem atenção
Pra descobrir a moral desta fábula
Que nós vamos contar.
(A borboleta sai voando, entra a tartaruga andando bem devagar)
TARTARUGA: Tô devagar, devagar, devagar, devagar, devagar, devagar. Ai, tô cansada. Eu acho que vou ficar naquela sombrinha ali. Tomar uma água de coco e comer uma cocada. (entra a Lebre correndo, atravessa o palco, esbarra na Tartaruga e prossegue correndo, sai de cena)
TARTARUGA: O que é isso? O que aconteceu? ( entra novamente a Lebre correndo, dá 3 voltas no palco, desce a platéia volta para o palco dá nova volta no palco, sai de cena, esbarra na Tartaruga) Gente, o que é isso? Será que foi um foguete? Um raio?
Não posso nem ficar tranqüila na minha calma de todos os dias. Tirar um soninho na sombra. Mas não tem problema não, vou tirar uma pestana. Ah... (balbucia, a Lebre entra e ri da Tartaruga)
LEBRE: Ah, ah, ah!!!!
TARTARUGA: Tá rindo de quê?
LEBRE: De um bicho gordo, desengonçado, lerdo...
TARTARUGA: ( A Tartaruga ri também) Que bicho é esse?
LEBRE: Você. (rindo)
TARTARUGA: (desperta da gozação) Que é isso? Mais respeito, mais respeito! Eu não sou da sua idade.
LEBRE: É mesmo... Eu sou mais nova que você.
TARTARUGA: Bem... eu também não sou tão velha assim.
LEBRE: Quantos anos você tem?
TARTARUGA: Eu sou uma jovem tartaruga.
LEBRE: Tudo bem. Então me diga, quantos anos você tem?
TARTARUGA: Ora, você acha que eu tenho que idade?
LEBRE: Dez anos.
TARTARUGA: Eu pareço ter dez anos!!!!!!!!!!!!!!!!!! Obrigada, muito obrigada!!!!!!!!!!
LEBRE: Uma lebre com dez anos tá muito velha.
TARTARUGA: Mas uma tartaruga com dez anos é jovem, muito jovem.
LEBRE: Onde já se viu? Uma lebre é uma lebre, uma tartaruga é uma tartaruga.
TARTARUGA: Você sabia que uma tartaruga vive 200 anos?
LEBRE: Tudo isso?!
TARTARUGA: É duzentos anos.
LEBRE: Eu tenho dois anos.
TARTARUGA: Dois?! (ri) Parece ter trezentos anos.
LEBRE: Está me chamando de velhinha?
TARTARUGA: Não!!!!!!!!! Você é apenas uma lebrinha chata.
LEBRE: Eu sou uma lebrinha chata e você...
TARTARUGA: Pode falar.
LEBRE: Você é uma tartaruga muiiiiiiiiiiiito velha.
TARTARUGA: Eu, velha?! Fique sabendo que só tenho cento e vinte cinco anos. (a Lebre cai dura para trás) Lebre, Lebre!!!!!!!!!! O que aconteceu?
LEBRE: Socorro!!!!! Um fantasma!!!!!!
TARTARUGA: Onde está o fantasma?
LEBRE: Aqui. (aponta para a Tartaruga)
TARTARUGA: Você está me chamando de fantasma?
LEBRE: Não... (debochado) Cento e vinte cinco.
TARTARUGA: Eu sabia que você iria zombar de mim.
LEBRE: Eu!? Ninguém me entende.
TARTARUGA: Fique sabendo que acompanhei os passos de muita gente importante.
LEBRE: Passos?! Que passos?
TARTARUGA: Eu sou uma testemunha viva da história. (orgulhosa)
LEBRE: Você é testemunha da história?!
TARTARUGA: Você já ouviu falar em Olavo Bilac?
LEBRE: Olavo de quê?
TARTARUGA: Foi um poeta . Eu o conheci. Ele passeava na praia, tranqüilo, calmo, a pensar...
LEBRE: Ah...
TARTARUGA: Um gênio.
LEBRE: Como você sabe disso?
TARTARUGA: Eu decorei todos os versos dele. O máximo!!!!!! ( extasiada)
LEBRE: Decorou?!
TARTARUGA: Sim, decorei. Quer ver? ( enche os pulmões de ar e começa a recitar Via Láctea de Olavo Bilac)
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E ao vir do sol saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direi agora!" Tresloucado amigo!
Que conversas com ela? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

Eu vos direi, Amai para entendê-las
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender as estrelas".
(No final as poesia emocionada) Gostou?
LEBRE: É... é... é...
TARTARUGA: Pode falar, é o máximo!!!!!!!!!!!
LEBRE: Eu não entendi nada.
TARTARUGA: Como não entendeu?
LEBRE: Tudo é muito... difícil.
TARTARUGA: Como muito difícil?! Olavo Bilac
LEBRE: Claro que é muito difícil.
TARTARUGA: Você precisa estudar...
LEBRE: Eu estudo, está pensando o quê? Que eu sou um ser que não sabe nada!
TARTARUGA: Eu não quis te ofender.
LEBRE: Fique sabendo, eu também sei recitar.
TARTARUGA: Que bom! Eu adoro ouvir versos.
LEBRE: Então vai lá.
Água mole em pedra dura
Tanto bate que fica tudo molhado.
TARTARUGA: Acabou?
LEBRE: Aplausos! Aplausos!
TARTARUGA: Peraí! Isto nem é poesia.
LEBRE: Como não?! Você não se emocionou? Me deu até um arrepio na pele. Veja, veja! (mostra-lhe o braço)
TARTARUGA: Uh... Você conhece outra?
LEBRE: Evidente. Vamos lá! Dj som na caixa!
Em cima daquele morro,
Passa boi passa boiada,
Passa tanto boi malhado
Que o chão fica todo... ( a Tartaruga tapa a boca da Lebre)
TARTTARUGA: Que é isso! Que vergonha! Toma juízo menina, eu sou uma senhora!
LEBRE: E o que tem demais!
TARTAEUGA: Que tem demais?! Você quase falou uma besteira.
LEBRE: Que besteira, eu só ia terminar o verso.
TARTARUGA: Ia falar uma besteira sim. Onde já se viu? Rimar boi malhado com...
LEBRE: Com estrelado. Eu ia dizer que o chão ficava todo estrelado.
(a Tartaruga fica sem graça)
TARTARUGA: Verdade?
LEBRE: É claro que é verdade.
TARTARUGA: Então me desculpe.
LEBRE: Só porque sou novinha você acha que eu minto?!
TARTARUGA: Não!!! Você vai me desculpar?
LEBRE: Vou.
TARTARUGA: Ah, que alívio! Senão eu ficaria com a consciência pesada.
LEBRE: Só a consciência, não. Você é toda pesada.
TARTARUGA: Está me chamando de gorda, por acaso?
LEBRE: Não!!!!!!!!!! Digamos assim... Você está um pouco acima do peso.
TARTARUGA: Você acha? Será que eu tenho algum pneuzinho?
LEBRE: Não... ( para o público) Tem pneu de caminhão.
TARTARUGA: Eu acho tão feio aquelas barrigas cheia de pneus.
LEBRE: É... mas eu tenho uma maneira muito boa para emagrecer.
TARTARUGA: Como?
LEBRE: Tartaruga, porque você não faz uma ginástica?
TARTARUGA: O quê? Ginástica?! O que é isso?
LEBRE: Você está me vendo. Não sou bonita?
TARTARUGA: Claro que você é.
LEBRE: Pois é muito fácil manter o corpinho assim, basta fazer ginástica.
TARTARUGA: Você me ensina?
LEBRE: Claro, claro. Primeiro tem que fazer o aquecimento.
TARTARUGA: Aquecimento? O que é isso?
LEBRE: Aquecer os músculos.
TARTARUGA: Ah...
LEBRE: Então vamos lá. Pulando corda. (a Lebre entrega uma corda a Tartaruga para ela pular) Então vamos lá. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez. Novamente vamos lá! ( a Tartaruga mal consegue dá os primeiros pulinhos) É isso aí! Muito bem!
TARTARUGA: Chega! Chega pelo amor de Deus!
LEBRE: Nós nem começamos.
TARTARUGA: Eu estou morta!
LEBRE: Que nada está muito viva. Vivinha da silva.
TARTARUGA: Eu vou dá um ataque.
LEBRE: Como você quer ficar mais magra se não quer fazer ginástica?
TARTARUGA: Eu não preciso emagrecer.
LEBRE: Como não precisa emagrecer?
TARTARUGA: Toda a minha família é assim... fofinha.
LEBRE: Fofinha?!
TARTARUGA: É, minha tia avó tinha assim uns... (pensando) duzentos e cinqüenta quilos.
LEBRE: Duzentos e cinqüenta!!!!!!!!!!! Ela era muito fofinha!!!!!!! (debochando)
TARTARUGA: E olha que ela nadava feito um lambari.
LEBRE: Não seria melhor dizer que era parecido como ... uma baleia?
TARTARUGA: Você está zombando de minha tia?
LEBRE: Que nada! Quem sou eu para zombar da rainha dos sete mares.
TARTARUGA: Você chamou minha tia novamente de baleia! Ela não é uma baleia. Ela é uma tartaruga! ( reclama)
LEBRE: Eu sei, claro que eu sei.
TARTARUGA: Você não pode zombar de minha família!
LEBRE: Está certo, está certo!
TARTARUGA: A minha família tem lá uns quilinhos a mais, mas tem as orelhas bem pequenas.
LEBRE: Peraí, você está chamando a minha família de orelhuda?
TARTARUGA: E não são?
LEBRE: Ofensa, você ofendeu a minha família!
TARTARUGA: E o que são esses pares pontudos juntos a sua cabeça?
LEBRE: São minhas... ( a Tartaruga ri) Tá rindo de quê?
TARTARUGA: Só estou esperando a confirmação.
LEBRE: É muito melhor ter duas orelhas de abano do que não ter nenhuma. Cadê suas orelhas, sua cascuda?
TARTARUGA: Êpa! Não comece com provocações!!!!!!!!!
LEBRE: Quem começou foi você!
TARTARUGA: Eu não estou ouvindo isso.
LEBRE: Claro, falta-lhe as orelhas.
TARTARUGA: Êpa!!!!!!!! Vou acabar fazendo uma besteira! (entra a Borboleta)
BORBOLETA: Bom dia! Que belo dia!
TARTARUGA: E se você pensa que essas orelhas são bonitas, vou dizer uma coisa, elas são horríveis! ( para a Lebre)
BORBOLETA: Que orelhas, eu não tenho orelhas?!
LEBRE: É... Então você poderia fundar o M.S.O. ! ( para a Tartaruga)
TARTARUGA E BORBOLETA: O que é M.S.O ?
LEBRE: Movimento dos Sem Orelhas. ( a Borboleta fica triste e ninguém percebe)
TARTARUGA: Sua mãe deveria ensinar a respeitar os mais velhos.
LEBRE: Bem... ela me ensinou a respeitar os mais velhos, mas você é uma múmia.
TARTARUGA: Eu, múmia?! Vou chamar tua mãe pra falar com ela. ( a Tartaruga percebe a Borboleta num canto) Oi Borboleta, você está vendo como essa Lebre é má educada.
LEBRE: Não sou eu que sou má educada. Você é que provoca.
BORBOLETA: Vocês acham que eu sou assim... tão feia!!!
TARTARUGA E LEBRE: Não!!!!!!!!
BORBOLETA: Só porque as minhas orelhinhas são tão pequenas que nem se percebem...
TARTARUGA: Ah, desculpem a nossa estupidez. Eu estava falando do orelhão ambulante.
LEBRE: Ainda bem que sou orelhão ambulante, pior seria se eu tivesse um casco sujo nas costas o tempo todo.
TARTARUGA: Quem tem casco sujo nas costas?
LEBRE: Você!!! ( a Tartaruga se enfurece)
TARTARUGA: Fique sabendo que eu lavo meu casco uma vez por mês!
LEBRE: Ai!!!!!! Socorro!!!!!!! Tem um bicho imundo aqui perto!
TARTARUGA: Onde? Onde? Onde? ( a Lebre posiciona a Tartaruga em sua frente)
LEBRE: Ela está aqui, na minha frente.
TARTARUGA: Sua Lebre atrevida!
LEBRE: Era por isso que estava com cheiro de podre por aqui.
BORBOLETA: Parem com isso! Vocês são dois animais da floresta. Não devem brigar.
TARTARUGA E LEBRE: ( apontam um para o outro) Foi ela quem começou!!!
BORBOLETA: Está bom. Agora vocês vão pedir desculpa uma a outra. ( a Tartaruga e a Lebre se dão as costas)
TARTARUGA: Só se ela pedir primeiro.
LEBRE: Só peço desculpa se ela pedir primeiro.
BORBOLETA: Vocês não podem ficar assim. Têm que fazer as pazes.
LEBRE: Fazer as pazes, como?! Se esse ser não me deixa ficar em paz.
TARTARUGA: Essa Lebre fica o tempo todo me atormetando.
BORBOLETA: E o que ela fez?
TARTARUGA: Ela zombou de minha idade.
BORBOLETA: Lebre, você zombou da idade da Tartaruga?
LEBRE: Eu não.
TARTARUGA: Só porque eu tenho cento e vinte cinco anos ela ficou caçoando de mim.
BORBOLETA: Cento e vinte cinco anos!!! ( espanta-se) Mas nem é tanto tempo assim!
TARTARUGA: Ela me chamou de gorda. Você acha que eu estou gorda?!
LEBRE: Eu quis ensiná-la a fazer ginástica, mas a Tartaruga...
TARTARUGA: Eu não consigo seguir o ritmo.
BORBOLETA: Ora, ora... só por esse motivo que vocês estão brigando? Vamos lá! Façam as pazes!
LEBRE: Eu não.
TARTARUGA: Eu também não quero.
LEBRE: Ela me chamou de orelhuda.
TARTARUGA: E me chamou de sem orelha.
LEBRE: As minhas orelhas são lindas! Isso deve ser inveja.
TARTARUGA: Inveja?! Ah, ah, ah !!!! Quero morrer verde se te invejo!
LEBRE: E que cor é essa? Rosa choque?
TARTARUGA: Veja bem, como ela me trata.
BORBOLETA: Lebre, trate melhor a Tartaruga.
LEBRE: Eu trato ela muito bem.
BORBOLETA: Então está tudo muito bem. Vamos fazer as pazes.
TARTARUGA E LEBRE: Não!!!!!!!!!!!!!!!!
BORBOLETA: Mas porque não? Vocês são assim tão ... parecidas!
TARTARUGA: Como parecidas?
LEBRE: Eu parecida com isso?
TARTARUGA: Quem é isso?
BORBOLETA: Vamos acabar com essas briguinhas. Veja bem, eu e Seu Besouro vivemos tão bem. O Besouro só veste preto. Eu sou colorida. Ele voa e faz um barulho esquisito. Eu sou silenciosa, bonita e...
TARTARUGA: ... vaidosa. Mas isso não é defeito. Agora eu sei que sou ...
LEBRE: ...cascuda, mal cheirosa, molenga.
TARTARUGA: Eu molenga?! Pois fique sabendo que faço cem metros nadando em poucos segundos.
LEBRE: Ah, ah, ah!!!!!!
BORBOLETA: Isso mesmo! A Tartaruga é excelente nadadora.
LEBRE: Como um bicho tão lento em terra pode ser tão rápido na água?
BORBOLETA: Porque ela é um animal anfíbio, isso é ela vive na terra e na água.
TARTARUGA: Viu só, seu filhotinho mal educado. Eu sou campeã de nadação.
LEBRE: E eu sou campeã de corrida na terra.
TARTARUGA: Mentira!
LEBRE: Verdade!
BORBOLETA: É verdade Tartaruga. A Lebre é um foguetinho.
TARTARUGA: Por isso que ela tem esse rabo cotó.
LEBRE: Rabo cotó?! Eu tenho rabo cotó! Você que tem um rabo que parece um chifre. É por isso que você não senta.
TARTARUGA: Borboleta, eu não respondo por mim, se ela continuar a me provocar.
BORBOLETA: Parem de provocar uma e outra. Vocês não querem ser amigas?
TARTARUGA E LEBRE: Não!!!!!!!!
BORBOLETA: Ah, isso não pode acontecer! Nós fazemos parte de um grupo de animais que conseguem vivem muito bem juntos. Por que vocês esquecem tudo e passam a viver sem provocações. ( silêncio) E então? Que vocês acham da idéia.
TARTARUGA: Só se a Lebre não me provocar mais.
BORBOLETA: Isso é muito bom. Já deram o primeiro passo. E então Lebre, o que você acha?
LEBRE: Nada de provocações, certo?
BORBOLETA: Certo.
LEBRE: Nenhumazinha?
BORBOLETA: Nada, nadinha, nadinha.
LEBRE: ( a Lebre dá uns passos pelo palco, olha a Tartaruga) Bem... eu topo, mas a Tartaruga não pode me provocar.
BORBOLETA: Que bom! Agora podemos comemorar.
TARTARUGA: Eu tenho uma idéia.
LEBRE: Engraçado, eu também tenho uma.
TARTARUGA: Por favor, fale de sua idéia primeiro.
LEBRE: Não, por nossa amizade, dou-lhe a vez.
TARTARUGA: Oh, quanta sensibilidade! Mas eu faço questão, você primeiro.
LEBRE: Não, a vez é sua.
TARTARUGA: Com certeza, essa é a sua vez.
BORBOLETA: (cortando a fala da lebre) Vamos comemorar.
TARTARUGA: Isso mesmo, vamos comemorar.
BORBOLETA: Dj som na caixa.
TARTARUGA: Tem Vicente Celestino. Adoro Vicente Celestino.
LEBRE: (olha para a Borboleta ) Minha querida Tartaruga, eu acho que esse tal de Vicente Celestino é muito ... antigo. Gostaria de ouvir um som mais moderno.
TARTARUGA: Ah, que bom! Eu sabia que a gente ia se entender.
BORBOLETA: É tão bom ver vocês se entendendo.
TARTARUGA: E que música você pretende ouvir?
LEBRE: Algo que faça remexer o esqueleto.
BORBOLETA: Que interessante!
TARTARUGA: Já sei, Chiquinha Gonzaga.
"Ô abre alas que eu quero passar..."
LEBRE: Que nada! Pra mim tem que ser funkão.
"Minha eguinha Pocotó
Pocotó, Pocotó, Pocotó, Pocotó
Minha égüinha Pocotó..."
TARTARUGA: Eu não agüento mais! Eu não aguento mais!
LEBRE: O que aconteceu?
TARTARUGA: Não dá pra suportar mais.
LEBRE: Eu também não aguento mais.
TARTARUGA: E pensar que eu tenho que ter paciência com essa... essa...
LEBRE: Essa velha coroca.
TARTARUGA: Quem é velha coroca?
LEBRE: A única que tem cento e vinte cinco anos.
TARTARUGA: ( para a Borboleta) Ela está me chamando de velha coroca!
BORBOLETA: Parem!!!!!!!!!!!! (grita) Chega! Chega! Chega! Não quero que dois animais dessa bela floresta discutam mais!!!!
TARTARUGA: Só se ela parar.
LEBRE: Se ela parar.
BORBOLETA: Vocês são tão bonitinhas!!!! ( abraça as duas) Vamos fazer uma coisa... eu vou chamar o compadre macaco e vamos fazer uma festa. Que tal?
TARTARUGA: Aquele macaco que gosta de colocar apelido em todo mundo? De jeito nenhum! Ainda mais ele já criou muitos problemas para mim.
LEBRE: O macaco é demais!!!!!!! Ele adora dançar, o maior barato!!!
BORBOLETA: Nós temos que encontrar um denominador comum. Alguma coisa que as duas gostem de fazer.
TARTARUGA: Eu adoro nadar.
LEBRE: Se eu cair numa bacia eu me afogo.
TARTARUGA: Eu sei cantar.
LEBRE: Já ouvir. Canta pior que uma serra elétrica.
TARTARUGA: Já começou as provocações!
BORBOLETA: Lebre, lebrinha, colabore.
LEBRE: Eu adoro dançar. (Tartaruga segura o riso) Que foi? Falei alguma palhaçada?
TARTARUGA: Aquilo é dança? Pensei que você estivesse com dor de barriga.
LEBRE: Olha a provocação!!!!!! Ela está provocando!!!
BORBOLETA: Por favor, por favor!!!! Parem com essas besteiras!
TARTARUGA: Eu já parei.
LEBRE: Eu também.
BORBOLETA: Não vão brigar.
TARTARUGA E LEBRE: Com certeza. ( irônicos)
BORBOLETA: Então deêem um aperto de mão e se abracem feito duas damas.
TARTARUGA: ( falsamente) Minha querida.
LEBRE: Meu amoreco. ( se abraçam e se beijam esboçando a maior falsidade)
BORBOLETA: Que bom que tudo está em paz. Para celebrar vamos tomar um chá. ( a Borboleta sai nesse instante a Tartaruga e a Lebre demonstram seus desacordos através de gestos) Demorei muito?
LEBRE: Não, um nadinha.
BORBOLETA: Fiz um chá de hortelã. O que vocês estão achando?
TARTARUGA: Uma delícia.
LEBRE: Maravilhoso. (bebem o chá)
BORBOLETA: Agora eu vou para a minha casa.
LEBRE: E onde fica a sua casa?
BORBOLETA: Fica num belo jardim, cheio de flores de todas as cores. Passo o dia todo saboreando o néctar e sentindo o seu perfume.
TARTARUGA: O meu lar é o oceano, voltarei para o mar e nadarei milhares de léguas. O fundo do mar é lindo, milhares de corais, recifes, montanhas marinhas. Um espetáculo!
BORBOLETA: E como é a sua casa?
LEBRE: Bem... vamos mudar de conversa.
TARTARUGA: Ah, eu faço questão de saber, onde a queridinha mora.
BORBOLETA: É longe daqui?
LEBRE: Não. (tímidamente)
TARTARUGA: Quer fazer charminho. Diga logo, onde fica sua casa?
LEBRE: ( baixinho) Num buraco.
TARTARUGA: Não ouvi. Onde mesmo?
LEBRE: Num buraco.
TARTARUGA: Fale mais alto.
LEBRE: Eu moro num buraco. Buraco. ( fala alto)
TARTARUGA: E sua casa é grande?
BORBOLETA: ( tentando cortar o assunto) Mas o dia hoje está tão bonito!
TARTARUGA: E como é mesmo a sua casa?
LEBRE: É um buraco debaixo da terra.
TARTARUGA: Eu pensava que só os vermes faziam toca debaixo da terra! Que estupidez a minha!
LEBRE: Sua velha coroca, não fique zombando de minha casa!
TARTARUGA: Eu não estou zombando de sua casa, estou constatando que você pertence ao grupo de animais inferiores.
LEBRE: Quem é animal inferior?
BORBOLETA: Por favor, não briguem, não briguem!!
LEBRE: Isso aí é que provoca.
TARTARUGA: Você o tempo todo me chateou, agora já sei o seu ponto fraco.
BORBOLETA: Vamos parar com essa discussão! Tartaruga, eu sei que você não gosta de ser chamada de velha coroca.
TARTARUGA: Isso mesmo.
BORBOLETA: Lebre, você não gosta de falar sobre a sua casa.
LEBRE: Certo, embora a minha casa é muito quentinha e confortável.
BORBOLETA: Você gosta dela?
LEBRE: Gosto.
BORBOLETA: Isso é que importa. A Tartaruga não se sente velha e você acha que sua residência é boa.
TARTARUGA: Eu me sinto uma... mocinha.
LEBRE: ( ri) Se você é uma mocinha eu sou um ovo.
BORBOLETA: Vai começar novamente?
TARTARUGA: Você vê que não há condições de conversar com a Lebre. Ela me ridiculariza o tempo todo.
BORBOLETA: Vocês têm que ter paciência uma com a outra.
LEBRE: Como posso ter paciência com um bicho que se acha um neném e está caindo aos pedaços?
TARTARUGA: Quem está caindo aos pedaços?
LEBRE: Uma senhora com mais de cem anos.
TARTARUGA: Eu não vou aceitar essa desfeita.
LEBRE: Nem eu.
BORBOLRTA: Vamos acabar definitivamente com essa discussão.
LEBRE: Isso mesmo.
TARTARUGA: Não estou acabada, posso ser lenta, mas não estou acabada.
LEBRE: Lenta?! Você não é lenta. Qualquer lesma é igual a um foguete ao seu lado.
TARTARUGA: Eu aposto.
LEBRE: Aposto o quê.
TARTARUGA: Que eu te venço numa corrida.
LEBRE: Você está maluca! É claro que te venço.
TARTARUGA: Vamos ver.
BORBOLETA: Estão dispostas mesmo a competir?
TARTARUGA E LEBRE: Com certeza.
BORBOLETA: Então vamos preparar a corrida. Eu serei a juíza da disputa.
TARTARUGA: Certo.
BORBOLETA: Vamos começar daqui. É só percorrer essa distância no menor tempo. Correto?
LEBRE: Ah, ah, ah!!!!!!! Que coisa ridícula!
BORBOLETA: Então vamos começar. Preparar. ( a Tartaruga e a Lebre vão para a linha de largada e se colocam em posição) Já!!!!!!!! ( dá a partida, a Tartaruga sai lentamente, a Lebre corre rapidamente e logo chega a linha de chegada, mas não a ultrapassa)
LEBRE: Ai, como estou cansada, vou passear um pouco. ( a Lebre retorna passeia pelo palco, dança, faz pirueta) Acho que vou tirar uma soneca. ( se encosta numa poltrona do teatro ou no chão do palco e dorme, aos pouco a Tartaruga chega a linha de chegada, nesse instante a Lebre acorda)
LEBRE: O que é aquilo a Tartaruga vai ganhar a corrida! Tenho que correr!
( a Tartaruga dá mais um passo e vence)
BORBOLETA: A vencedora, a Tartaruga!!!
LEBRE: Não pode, não pode, eu sou mais rápida!
BORBOLETA: Mas você não seguiu as regras do jogo.
TARTARUGA: Eu sou o animal mais rápido da floresta!
BORBOLETA: Agora, Lebrinha você aprendeu que se deve respeitar a todos, sem distinção de idade. Dona Tartaruga também deve que ter mais paciência com os mais novos. Todos devem respeitar mutuamente, sem se importar com diferenças. De hoje em diante a Tartaruga e a Lebre vão se respeitar e serão amigas para sempre.

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